Poema do homem novo - POEMAS DE ANTÓNIO GEDEÃO


Niels Armstrong pôs os pés na Lua 
e a Humanidade saudou nele 
o Homem Novo. 
No calendário da História sublinhou - se 
com espesso traço o memorável feito. 

Tudo nele era novo. 
Vestia quinze fatos sobrepostos. 
Primeiro, sobre a pele, cobrindo - o de alto a baixo, 
um colante poroso de rede tricotada 
para ventilação e temperatura próprias. 
Logo após, outros fatos, e outros e mais outros, 
catorze, no total, 
de película de nylon 
e borracha sintética. 
Envolvendo o conjunto, do tronco até aos pés, 
na cabeça e nos braços, 
confusíssima trama de canais
 para circulação dos fluidos necessários, 
da água e do oxigénio. 

A cobrir tudo, enfim, como um balão ao vento, 
um envólucro soprado de tela de alumínio. 
Capacete de rosca, de especial fibra de vidro, 
auscultadores e microfones, 
e, nas mãos penduradas, tentáculos programados, 
luvas com luz nos dedos. 

Numa cama de rede, pendurada 
da parede do módulo, 
na majestade augusta do silêncio, 
dormia o Homem Novo a caminho da Lua. 
Cá de longe, na Terra, num borborinho ansioso, 
bocas de espanto e olhos de humidade, 
todos se interpelavam e falavam , 
do Homem Novo, 
do Homem Novo, 
do Homem Novo. 

Sobre a Lua, Armstrong pôs finalmente os pés. 
Caminhava hesitante e cauteloso, 
pé aqui, 
pé ali, as pernas afastadas, 
os braços insuflados como balões pneumáticos, 
o tronco debruçado sobre o solo. 

Lá vai ele. 
Lá vai o Homem Novo 
medindo e calculando cada passo, 
puxando pelo corpo como bloco emperrado. 

Mais um passo. 
Mais outro. 
Num sobre - humano esforço 
levanta a mão sapuda e qualquer coisa nela. 
Com redobrado alento avança mais um passo, 
e a Humanidade inteira, 
com o coração pequeno e ressequido , 
viu, com os olhos que a terra há - de comer, 
o Homem Novo espetar, no chão poeirento da Lua, a bandeira da sua Pátria, 
exactamente como faria o Homem Velho.