A Lenda das manchas da lua

 A Lenda das manchas da lua

21Uma vez andava um homem a trabalhar ao domingo apanhando silvas. A pareceu Deus e disse-lhe:

– Então, andas a trabalhar ao domingo?

– Senhor, aqui ninguém me vê neste canto.

– Pois deixa estar, que toda a gente te há-de ver.

22Depois Deus colocou na Lua o homem com o molho de silvas às costas. É ele que, andando lá, produz as manchas.

23(Freixo, Carrazeda de Ansiães, etc.–L. de Vasconcelos, Vanguarda n.° 34)

24NOTA–Stanislao Prato estudou largamente esta lenda no opúsculo L’Uomo nella Luna, como complemento ao ensaio crítico sobre Caino e le Spine secondo Dante e la tradizione popolare; nela cita versões de diversos países: Contes populaires de la Haute Bretagne, de Paul Sebilot, 2.a série n.° 64; na Melusine, de Gaidoz e Rolland, pp. 403-6, n.° 5; nos Norddeutsche Sagen, de Kuhn e Schwartz, n.° 55; nas Seize superstitions populaires de la Gascogne, de Bladé, n.° 4, p. 10. Na tradição popular açoriana é um pescador que andando de noite às lapas, é arrebatado para a Lua. A lenda deriva-se da crença gaulesa e cítica da transmigração das almas para a Lua. (Vid. Belloguet, Ethnogénie gauloise, t. III. p. 184.) A ideia de castigo afrontoso é uma reacção contra o antigo respeito da crença religiosa.


https://books.openedition.org/etnograficapress/5418#tocfrom1n5